Negativo de vidro

 

 

    A geração que já nasceu no mundo informatizado, e que desde cedo se utiliza das câmeras digitais, pode não conhecer o que é um negativo fotográfico. No campo da conservação de fotografia esse é um assunto amplo que envolve o conhecimento técnico de se saber identificar e trabalhar com os diferentes tipos de processos e de suportes de que são feitos os negativos. Aqui trataremos o tema de uma maneira simplificada visto que o objetivo é apresentar um pouco do material do qual é constituído o acervo de  negativos do fotógrafo Francisco Seibel.

   

     O negativo é um  suporte onde a imagem captada pela câmera se fixa, ele apresenta tonalidade invertida, isto é, um objeto escuro se apresentará claro no negativo, acontecendo o oposto com um objeto claro, aparecerá escuro.  Sua função é servir de matriz para a produção das cópias fotográficas, um negativo comumente é utilizado para realizar cópias da imagem em positivo. 

   

    Importante pontuar que a forma de produção dos negativos também variou ao longo da história da fotografia, inicialmente foram produzidos em papel, passaram a ser confeccionados em base de vidro e por fim em base plástica, que podem ser de nitrato de celulose, acetato de celulose e poliéster, sendo estes o tipo de negativo mais populares.

       

    Especificamente falando dos negativos de vidro, a história da fotografia vai registrar, entre o período  de  1848 a 1971, três tipos de negativos sobre o suporte de vidro:

    O  negativo de  albúmen,  que utiliza clara de ovo para “segurar” a solução sensível de nitrato de prata sobre o suporte de vidro.

   

    O negativo de colódio úmido, feito com uma solução de colódio - mistura de nitrocelulose com álcool e éter -. O que caracteriza o  negativo de colódio úmido era o fato do  fotógrafo ter que realizar todas as operações da fotografia rapidamente: sensibilização da chapa, exposição, revelação e fixação  antes que o colódio secasse.

       

    O negativo de colódio seco, que foi pensado em função dos inconvenientes que a rapidez do processamento que o negativo  do colódio úmido exigia. O colódio seco  era uma busca de se produzir um negativo que  facilitassem a sua execução não necessitando de um processamento tão rápido com era o exigido pelo negativo de colódio úmido. Estes negativos depois de preparados conservavam-se o tempo suficiente para serem transportadas em viagem, sem necessidade de um processamento imediato. Apesar desta grandes inovações, o processo do colódio úmido continuou a ser o mais usado pelos fotógrafos.

   

    O negativo de vidro de placa seca de gelatina. Foi  inglês Maddox que  em 1871 experimentou espalhar  sobre uma placa de vidro uma solução de gelatina com sais de prata, formando-se uma fina película que se denominou como emulsão.

       

    No inicio de sua utilização a produção dos negativos de placa seca de gelatina tinham um caráter artesanal, algumas pequenas empresas fabricavam  a emulsão de gelatina em panelas e que depois revestiam os vidros de forma manual, utilizando um bule de chá. Rapidamente os fabricantes substituíram os métodos artesanais  por uma produção mecanizada e assim fabricantes de negativos em vidro de gelatina começaram a surgir em vários países da Europa e nos Estados Unidos.

   

    Diferente dos outros tipos de negativo de vidro, que eram produzidos artesanalmente pelo fotógrafo, o negativo de placa seca de gelatina industrialmente produzido não apresenta  irregularidades nas bordas e tem a emulsão  uniforme e fina e a espessura do vidro gira em torno de 2 mm. Os negativos de placa seca de gelatina apresentam cor neutra e se percebe claramente os tons de preto e branco.

   

    São os negativos de vidro de placa seca de gelatina, produzidos industrialmente, os utilizados pelo fotógrafo Francisco Seibel. O acervo de negativos nos permite visualizar a diversidade de marcas que existiam no mercado e que foram produzidas até a década de 1970.

Foto - diversidade de marcas de negativos de vidro de placa seca de gelatina utilizadas por Francisco Seibel

 

    O uso dos negativos de vidro de placa seca de gelatina exigia que o fotógrafo  Francisco Seibel trabalhasse com  uma câmera de médio e grande formato, pois  os  negativos de chapas de vidro tinham o formato de 12 x 9 cm. O equipamento utilizado por Seibel  ilustra um pouco da dificuldade e da rusticidade do que era ser fotógrafo em uma realidade rural, quando nos damos contas dos longos percursos que tinham que percorrer para realizar o seu trabalho, carregando a câmera e o tripé, construídos de pesada madeira, e do cuidado necessário para a conservação das chapas de negativo de vidro que, alem de pesados, pela sua fragilidade poderiam se quebrar tanto na viagem de ida, quanto de retorno do evento fotografado. Os negativos de chapas de vidros, em muitas das vezes eram transportados em quantidade para atender a mais de um casamento em um mesmo dia, ou como recambio caso algum incidente acontecesse durante a realização do trabalho fotográfico.  

   

    Para trabalhar com os negativos de vidro, principalmente devido ao tamanho destes, as câmeras usadas pelo fotógrafo dependiam da utilização de um chassi, uma espécie de pequena caixa, que em alguns modelos possuía tampas de correr em dois lados. Em cada lado desse chassi, em um ambiente escuro, era posto um negativo de vidro, ao fechar as tampas do chassi os negativos ficavam protegidos da luz e este era encaixado na parte traseira da câmera.

       

    Depois de encaixado o chassi na câmera se levantava uma das suas tampas de correr, no caso a do lado que se encontrava presa a traseira da câmera, na seqüência se acionava o disparador da câmera que abria o seu obturador e permitia que a luz chegasse a parte traseira da câmera e alcança-se o chassi preso a ela, e, conseqüentemente, já que a sua tampa madeira estava aberta, o negativo, que assim sofria a sua exposição a luz. 

   

     Terminado o tempo que o negativo deveria ficar exposto a luz para que se formasse nele a imagem, se fechava a tampa do chassi, assim o negativo exposto ficava novamente protegido da luz. Para utilizar o segundo o negativo preso ao chassi, e que ainda não tinha sido exposto a luz, se retirava o chassi da traseira da câmera e utilizando agora o lado que possuía o segundo negativo, se encaixava novamente o chassi a câmera. 

   

    A cada duas fotografias tomadas o fotógrafo era obrigado a retirar as duas chapas de negativo de vidro utilizadas do chassi, o que implicava ser muito laborioso, pois no processo de instalar e retirar os negativos em chapas de vidro do chassi deve-se evitar que estes recebam luz. A opção que restava ao fotógrafo que utilizava este sistema para amenizar as dificuldades técnicas em relação a rapidez e ao número de fotografias que podiam ser realizadas era o de ter um certo número de chassis extras, assim se retirava o chassi inteiro e recolocava outro já recarregado com duas chapas de negativos não expostas. Após o registro do evento os chassis com as chapas de negativos expostas a luz eram guardadas e seriam abertas somente na segurança do laboratório de revelação.

   

    A tecnologia fotográfica utilizada por Seibel racionava e impedia o uso de várias tomadas de um mesmo assunto. A dificuldade de encontrar no mercado, as longas distâncias para sua obtenção e certamente o preço das chapas de vidros sensibilizadas faziam com que o número fotografias tomadas em um casamento, por exemplo, variasse entre seis a doze como no máximo, isto levando em conta, lógico, a disponibilidade econômica do contratante.