Etapas do projeto

 

    Pré-diagnóstico/inventário

 

    As ações realizadas nessa etapa visaram fazer uma triagem geral do acervo fotográfico buscando ter uma compreensão dos materiais que fazem parte da sua composição, do número de documentos existentes e do seu estado geral de conservação.

 

    Foi possível confirmar que este acervo é composto na sua totalidade de originais fotográficos em negativo, sendo a maior parte em suporte de vidro e também alguns poucos com base de plástico, e que, na sua maioria se encontravam ainda armazenados em suas caixas originais. Em alguns raríssimos casos foram encontrados misturados em uma mesma caixa negativos de vidro de placa seca de gelatina com os de base plástica, que podem ser do tipo nitrato de celulose e/ou acetato de celulose, que para sua perfeita identificação necessitam de observação e/ou de realização de testes. 

 

    Por mais de três décadas este material fotográfico esteve acondicionado nas suas caixas originais, muitas se encontravam em processo de decomposição, seja pela ação do tempo e absorção da umidade ou pela apresentação de diversos furos e marcas provinientes do ataque de insetos como traças, formigas e também de roedores.  De forma geral essas caixas em todo o conjunto apresentavam interna e externamente, uma grande quantidade de poeira, larvas de formigas, insetos mortos e excrementos de roedores.

 

Foto - Estado de conservaçãem que se encontravam alguns negativos.

 

    Foi realizada uma higienização nas caixas, para retirada de poeira, larvas e insetos, e naqueles casos onde havia um avançado estado de deterioração das mesmas foi necessário retirar os negativos das caixas onde originalmente foram acondicionadas para recondicioná-las, ainda que seja de forma provisória, em embalagens de papel. Tendo a preocupação nesse processo em se observar e realizar as anotações e registros fotográficos  das informações que estas caixas poderiam conter, sejam  as realizadas pelo próprio  fotógrafo, e também as informações de próprio material sensível como é o caso da origem de fabricação, marca, ISO, etc.

 

    A primeira ação de intervenção no acervo de negativos foi a separação dos negativos com suporte de vidro dos negativos com suporte de plástico. Essa separação foi pensada como uma das primeiras medidas de conservação possíveis de se realizar no acervo, pois do ponto de vista de sua estrutura e formas de deterioração estes dois materiais fotográficos se comportam de forma muito distinta.

 

    Muitos destes negativos de base plástica, já apresentavam características de degradação evoluídas com emulsões que se encontravam coladas umas a outras, ondulações, bolhas e um cheiro forte de vinagre – síndrome do vinagre, próprio dos negativos de acetato de celulose – provocado pelo acido acético que pode  contaminar  as películas em bom estado vizinhas a ele.

 

Foto - negativos de base plástica com características de degradação evoluídas.

 

    Já nos negativos de suporte de vidro, que verdadeiramente dão corpo ao acervo, os casos graves de deterioração foram encontrados em um pequeno número de peças, que são justamente as que se encontravam em caixas atacados por insetos e roedores, negativos estes que mesmo estando com certas cicatrizes na emulsão não tiveram as informações dos seus conteúdos perdidos. Esses negativos sofreram esse tipo de deterioração pelo ataque de diferentes insetos e roedores as caixas e por se encontrarem acondicionados próximos a tampa e ao fundo dessas caixas, tendo o importante papel de servirem como uma barreira, o que impediu que os insetos e roedores penetrassem e alcançassem outros negativos em uma mesma caixa.

 

    O pré-diagnóstico/inventário permitiu conhecer um pouco do conteúdo e da forma física das peças. Esse primeiro contato com o acervo, salvo a separação entre os negativos de base plástica e os de vidro e a higienização das caixas, se limitou a uma observação geral e anotações sobre quantidades, formatos, tipos de processos fotográficos existentes, datas aproximadas, a ocorrência de peças instáveis e deterioradas e qual o sentido de coleção que poderia apresentar a organização original dos negativos.

 

    Essa fase do pré-diagnóstico/inventário foi ampliada e detalhada numa fase posterior que é a do diagnóstico, momento em que cada peça foi examinada de forma individual e minuciosa, seguido de sua catalogação que deverá conter as diversas informações necessárias para uma compreensão não só da coleção, mas também das ações e intervenções de conservação realizadas. Sobre tudo esse pré-diagnóstico/inventário permitiu traçar um plano de organização e tratamento, incluindo a previsão da duração dos trabalhos que terão de ser realizados, número de colaboradores e materiais necessários.

   

    Formação

 

    Nessa fase a coordenação técnica apresentou aos estagiários os conteúdos do plano de conservação proposto para o acervo de negativos de vidro. Entre outros temas ligados a conservação de fotografia foram abordados: os cuidados e manuseio especifico dos negativos de vidro. As propriedades particulares desse objeto e sua constituição: suporte,  substância formadora e ligante.

 

    Outro tema tratado foi referente as deteriorações comuns nos negativos de vidro de placa seca de gelatina e as que mais se apresentam no acervo pela realidade dos mais de 30 anos de armazenamento precário. Tratou-se também do processo de higienização, as técnicas e materiais utilizados e os princípios e limites que norteiam esse procedimento.

 

    Foi trabalhada a metodologia a ser utilizada no diagnóstico e na catalogação das peças bem como as  características dos materiais utilizados no plano de acondicionamento proposto para o acervo de negativos de vidro.

 

    Foto - Os estagiários Deyse Ferreira da Silva, Luis Antonio Keiper de Carvalho e Camila Gavini Viana observam as propriedades do negativo.

 

Diagnóstico/catalogação

 

    O tratamento técnico proposto a esse acervo é fruto de um planejamento que levou em conta muitas variantes, das quais podemos pontuar algumas prioritariamente importantes: o número de peças que o acervo possui e o período determinado para a realização dos trabalhos. O fato do acervo fotográfico a muitos anos ter estado em condições de guarda precário. Não  se ter projeção futura de recursos para que sejam novamente tratados e reacondicionados. Evitar romper com  sua organização original e, principalmente, não ser ter um espaço apropriado com todas as condições ambientais seguras e controladas para seu armazenamento. A observação dessas principais variantes norteou a elaboração de um minucioso planejamento, satisfatoriamente praticado, nesses seis meses de atividades.

   

    Dentro desse planejamento o trabalho de diagnóstico/catalogação teve como preocupação documentar o acervo, buscando realizar uma espécie de prontuário de cada negativo, onde diagnosticamos sua deterioração e apontamos as intervenções que seriam realizadas em cada peça pela equipe do projeto. Em conjunto a esse diagnóstico a preocupação foi realizar  também uma gestão arquivística que permitisse o acesso as informações que este acervo possui.

 

Foto - O coordenador Paulo de Barros  realizando o diagnóstico/catalogação dos negativos.

 

Higienização

 

    A higienização é sem dúvida uma das mais importantes fases de um projeto de conservação, pois a sujidade é o agente de deterioração que mais afeta os documentos, e quando conjugada a condições ambientais inadequadas, provoca reações de destruição de todos os tipos de suportes fotográficos.

 

Foto - Caixas originais dos negativos conservados.

 

    A higienização nos negativos de vidro é realizada em duas áreas distintas: no suporte, que podemos conceber como uma área onde a peça fotográfica sofre intervenções de limpeza cujo o caráter podemos considerar como sendo menos agressivo ao material fotográfico. A outra área é a da emulsão, que se trata de uma área extremamente sensível a intervenções.

 

    Cada negativo apresentou graus diferentes de sujidades, o que determinou o números de vezes que se realizou o procedimento de limpeza, sendo este realizado quantos vezes fossem necessárias para que toda a sujidade fosse removida do negativo, logicamente considerando se essa intervenção acontece na área da emulsão ou do suporte.

 

Foto - A estagiária Fabíola Menezes trabalhando na higienização de negativo.

 

Foto - Detalhes da sugidade encontrada nos negativos.

 

Foto - A equipe do projeto trabalhando na higienização de negativos.

   

Os procedimentos  adotados para a higienização dos negativos se deram de forma padrão em todos os  3.514 negativos higienizados, religiosamente pautados nas intervenções recomendadas em conservação de fotografia.

 

Foto - Exemplo de um negativo antes e depois de sua higienização.

 

  Acondicionamento

 

    Realizada a etapa da higienização dos negativos, estes para sua conservação adequada deverão ser acondicionados em embalagens produzidas a partir de materiais com características próprias para a conservação de fotografia.

 

    O acondicionamento em conservação de fotografia tem varias funções. No caso do trabalho com negativos de vidro há de se considerar que estes  são peças que, por sua fragilidade, são suscetíveis a quebras e mutilações, assim, os invólucros usados no acondicionamento contribuem para dar estabilidade a cada uma das peças. Outro objetivo é contribuir para reduzir a deterioração, assim ao se acondicionar uma peça estaremos lhe dando um alto nível de proteção, pois o invólucro serve como uma barreira contra umidade, fungos, luz, etc.

 

Foto - Negativo sendo acondicionado em invólucros. 

 

Foto - A estagiária Lorena de Figueiredo Machado Velho acondicionando negativos em caixas.